Com a aprovação do Pix pelo Banco Central, o Brasil se junta à lista de mais de 50 países que contam com sistemas de pagamentos instantâneos. Considerada tendência mundial, a modalidade já existe há algum tempo em outros países, com transações atingindo a casa dos bilhões. Apesar de cada país contar com regras e formas de implementação diferentes, todos foram se aperfeiçoando ao longo do tempo para lidar com os mais diversos obstáculos. O Brasil está entrando agora nesse território, e o Pix traz vantagens que outros sistemas estrangeiros ainda não oferecem. Ainda assim, vale a pergunta: o que podemos aprender com a experiência de outros países?
O Japão foi o primeiro a oferecer pagamentos instantâneos com o Zengin, em 1973. Em 2008, o Reino Unido introduziu o Faster Payment Services, seguido pela China e Índia, que lançaram seus próprios sistemas em 2010. Um relatório da FIS (Fidelity National Information Services, Inc.) classificou a Índia como líder global em usabilidade do sistema de pagamento instantâneo. Para se ter uma ideia, o Unified Payments Interface (UPI) contabilizou 1,22 bilhão de transações em um único mês, em novembro de 2019, além de movimentar anualmente um valor que corresponde a 19% do PIB da Índia. A implementação do UPI resultou em uma maior democratização de pagamentos no país, facilitando os processos de transferência e reduzindo o número de desbancarizados.
O sucesso dos pagamentos instantâneos na Índia não ocorreu de forma tão imediata.
O primeiro sistema lançado no país foi o IMPS (Immediate Payments Service), em 2010, mas teve baixa popularidade devido à complexidade e limitação do serviço. Foi apenas com a chegada do UPI em 2016 que a modalidade apresentou um crescimento exponencial.
Em outros países, a baixa adesão pode ser explicada pelo fato de o sistema ter sido implementado apenas como opção, o que resultou em um número reduzido de bancos participando do programa. De acordo com um relatório de 2015 da SWIFT, rede internacional de pagamentos, uma série de fatores pode influenciar a adoção dessa modalidade. Em geral, o estudo concluiu que a adoção ocorre de forma rápida quando é capitaneada por reguladores - como é o caso do Bacen liderando o Pix no Brasil - em locais em que os bancos se comprometem com a iniciativa, e quando as pessoas conseguem perceber que existe algum tipo de benefício.
Além das vantagens para os cidadãos, em geral, o sistema de pagamentos instantâneos é capaz de oferecer benefícios para a economia do país. A redução da circulação de dinheiro em espécie, por exemplo, ajuda a formalizar a economia. A oferta de transferências de forma simplificada e custos baixos (ou inexistentes) também atrai o público de desbancarizados a considerarem a abertura de contas ou ampliarem o acesso a determinados serviços, o que contribui para a fiscalização.
O impacto positivo para o comércio também é percebido, já que transações com cartão de débito tendem a ser reduzidas, consequentemente, reduzindo custos com taxas para o comerciante, especialmente aqueles com compras de menor valor aonde as taxas de cartão tendem a espremer mais sua sua margem.
No caso de transferências entre governo e cidadãos, os pagamentos instantâneos podem, além de acelerar o processo para as pessoas que precisam de um auxílio monetário com urgência, auxiliar na identificação de fraudes envolvendo benefícios. Quando a África do Sul implementou pagamentos instantâneos, por exemplo, o governo passou a utilizar a tecnologia de biometria para autenticar os beneficiários, o que resultou no cancelamento de mais de 850 mil transações duplicadas ou ilegais identificadas pelo sistema.
Apesar das vantagens oferecidas pelo Pix, é importante que os bancos e fintechs estejam preparados para possíveis desafios de implementação. Após analisar sistemas de pagamentos instantâneos em diferentes países da Europa, um relatório da Deloitte listou quatro principais desafios para que as provedoras do serviço viabilizem transferências em um espaço de tempo tão curto: baixa latência, disponibilidade, gestão de liquidez e prevenção a fraudes.
Dentre os desafios citados, o mais sensível de todos é em relação às fraudes.
Se antes os pagamentos podiam levar até dias para serem processados, com os pagamentos instantâneos, as instituições tiveram que reduzir esse intervalo para apenas alguns segundos. Isso significa que as instituições também precisam realizar uma análise complexa em tempo recorde para liberar o dinheiro para o recebedor.
Em junho de 2019, uma reportagem da NBC News revelou que diversos usuários haviam sido roubados por meio do serviço de pagamento digital Zelle. Assim como muitos sistemas similares, o Zelle permite enviar dinheiro para outras pessoas dentro de segundos utilizando apenas um endereço de e-mail ou número de telefone. Uma das vítimas relatou que havia recebido uma suposta ligação do seu banco pedindo que ela informasse o código enviado por SMS para que eles pudessem verificar a sua identidade. Com o código em mãos, os fraudadores puderam criar uma conta no Zelle no nome da vítima e ter acesso às suas contas bancárias.
Casos de engenharia social como esses são alguns dos golpes mais comuns. No Reino Unido, um tipo de fraude conhecido é o envio de um boleto emitido por uma suposta instituição ou serviço. Com os sistemas de pagamento instantâneos, o processo de transferência ocorre de forma muito rápida, muitas vezes antes de o esquema ser identificado como fraude e a transferência instantânea tem caráter irrevogável. Nestes casos, o dinheiro só será recuperado se a instituição envolvida no pagamento ressarcir o cliente, algo difícil de acontecer em casos que fique provado que o usuário passou dados para fraudadores.
Outras estratégias comuns envolvem QR codes que podem ser enviados por um fraudador se passando por um conhecido, pedindo a transferência via o escaneamento do código. Em alguns casos, os criminosos ainda substituem o QR code por um código falso, direcionando os usuários para páginas que se parecem com a original, mas que são utilizadas para levar os visitantes a baixarem malwares ou fornecerem suas informações pessoais. Em março deste ano, o MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) denunciou uma quadrilha que roubava dados bancários de clientes por meio de QR Codes, resultando em um prejuízo de R$ 1,1 milhão apenas no Distrito Federal.
Os QR codes fraudulentos trazem grandes prejuízos tanto para o cliente, como para a empresa e para os processadores de pagamentos. Para evitar golpes como esse, a melhor solução é identificar códigos suspeitos antes mesmo que a transação seja realizada. Para pagamentos instantâneos, a inteligência de localização reduz este risco. A biometria de localização é capaz de identificar se o usuário está realmente no local onde o pagamento está sendo feito e se o QR code digitalizado foi realmente emitido pelo estabelecimento onde o usuário está localizado.
De acordo com o regulamento do Banco Central, os processadores de pagamentos é que serão responsáveis por validar os dados do usuário.
Mas como garantir a segurança sem comprometer a boa experiência do usuário, que tem a expectativa de uma experiência instantânea e sem fricção?
Para os casos de roubo de conta e abertura de conta com identidade falsa ou sintética, a boa experiência do usuário é preservada com a biometria comportamental por localização. Sua resposta é automática, e no onboarding identifica se o endereço residencial cadastrado no app corresponde com histórico de localização do dispositivo, e se o dispositivo tentando acessar a conta já criada tem comportamento confiável, ou seja, se está em um local que comumente é visitado. O processador do pagamento pode adicionar outra camada de verificação apenas para os casos em que as informações não batem.
O Pix traz uma série de benefícios que, em outros países, só foram conquistados com o tempo: disponibilidade 24/7/365, baixos custos e alta adesão por parte das instituições financeiras. O grande desafio, porém, sempre será a prevenção de fraudes. Considerando que a implementação do novo sistema acarretará investimentos para tal, a melhor opção é buscar parceiros com expertise e que sejam capazes de antecipar riscos, oferecendo segurança e conveniência tanto para a empresa como para o usuário.
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